Correio da Manhã 25/11/99  
'E-mails' à borla e Internet nos CTT

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Os robôs futebolistas são obrigatórios em qualquer vista ao Laboratório do Instituto de Sistemas e Robótica (foto Inácio Rosa/Lusa/CM)
Um milhão de endereços electrónicos gratuitos (vulgo e-mail) a disponibilizar pela Telecel e as estações de correios a disponibilizar a Internet aos cidadãos são duas das quatro medidas para "democratizar a sociedade de informação" que o primeiro-ministro, António Guterres, anunciou ontem durante uma visita ao Instituto de Sistemas e Robótica (ISR) que funciona nas instalações do Instituto Superior Técnico.

Os protocolos serão assinados entre a Fundação para a Computação Científica Nacional, a Telecel e os CTT.

Guterres anunciou que o protocolo a assinar com os CTT vai permitir a instalação em 200 estações de correios, por todo o país, de pontos de acesso livre à Internet já este Verão.

Entre as medidas anunciadas ontem está o projecto "Riacho": um protocolo entre aquela Fundação e a Portugal Telecom para dotar as universidades e centros de investigação da ligação a linhas de alta velocidade.
Todas as escolas primárias terão, brevemente, acesso à rede de Internet, disse também Guterres.

O chefe de Governo explicou que dentro do III Quadro Comunitário de Apoio existem dois programas: um de 200 milhões de contos para a Ciência, Tecnologia, e Investigação; outro de 140 milhões para a Sociedade de Informação. Deste último programa sairão 25 milhões exclusivamente para apoiar a investigação na área das tecnologias de informação.

Por outro lado, o primeiro-ministro salientou como "relevante" o facto das empresas privadas e da sociedade civil terem correspondido às intenções políticas do Governo nesta matéria com a óbvia redução de custos para os contribuintes.

António Guterres, acompanhado pelo ministro da Ciência, Mariano Gago, destacou o papel dos centros de ciência na entrada de Portugal para o século XXI. Lamentando que, na maioria dos casos, quando alguém faz alguma coisa de valor sofra "a conspiração da inveja com a mediocridade", frisou que "seria fatal" para o nosso país se seguissem as opiniões dos que defendem que apenas se deve fazer investigação tecnológica, deixando de lado a Ciência pura.

A nova posição face à Ciência deverá estribar-se nos centros de excelência, como é o caso do Instituto Superior Técnico, apontou.

Para frisar a necessidade de articular a sociedade civil e a Ciência, Guterres apontou como exemplo os projectos do Instituto de Sistemas e Robótica ligados ao mar "que faz parte da nossa vocação de estar no mundo". E afirmou que como antigo aluno do Técnico (licenciado em 1971 em engenharia electrotécnica com 19 valores) "é um encantamento" ver o trabalho realizado.

No campo da robótica submarina e oceanográfica, está em curso o projecto "Caravela" de construção de um navio oceanográfico de pequena dimensão, não tripulado e de largo alcance. Ainda neste domínio, o projecto "Asimov" envolve dois veículos autónomos: um navio de superfície e outro submarino que se deslocam a par na vertical um do outro e que permitem recolher informação do fundo do mar através de ondas acústicas.

Na área das comunicações têm-se desenvolvido novas técnicas de processamento de informação por sinal e imagem em meios submarinos, no qual se integra também o "Asimov".

Guterres teve ainda oportunidade de observar as experiências em curso no domínio da visão por computador, do qual se salienta o "VIRSBS" com o objectivo de construir o protótipo de uma estação autónoma de identificação social que possa, por exemplo, ser usada nas caixas multibanco.

O chefe de Governo assistiu também a uma demonstração de uma nova ecografia a três dimensões que abre um campo totalmente novo no diagnóstico médico, além dos já bem conhecidos robôs futebolistas, que são alvo de estudos em interacção e robótica cooperativa.

Durante a parte da tarde, o ministro da Ciência acompanhou o presidente da República ao Pavilhão do Conhecimento, do Parque das Nações, para a apresentação e desfile de carros ecológicos de muito baixo consumo, concebidos e construídos por universidades portuguesas.

Fátima Palmeiro